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A influência da fé nas funções neurológicas e na saúde mental

A investigação foi realizada através de uma revisão de literatura abrangente nas bases de dados SciELO, PubMed, Science Direct e PsycINFO.

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Introdução

O estudo da fé e sua influência sobre a saúde mental e física é um campo interdisciplinar que reúne teólogos e neurocientistas. Este artigo tem como objetivo explorar como a fé impacta a saúde mental e as funções cerebrais, comparando as experiências de indivíduos religiosos e ateus. A investigação foi realizada através de uma revisão de literatura abrangente nas bases de dados SciELO, PubMed, Science Direct e PsycINFO.

A Influência da Fé na Saúde Mental

A fé tem sido objeto de estudo desde a década de 1980, com evidências apontando sua influência positiva na saúde mental e física. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a fé pode auxiliar no tratamento de patologias como depressão e ansiedade, podendo até prevenir o suicídio (Rodrigues, 2022). Estudos mostram que a prática religiosa regular pode ajudar na regulação emocional e melhorar o convívio social, como observado em pacientes esquizofrênicos que relataram melhoras significativas após três anos de práticas religiosas (Pargament, 2013).

Andrew Newberg, em seu livro “Como Deus Muda o Seu Cérebro”, sugere que a fé pode alterar circuitos neurais, com estudos de neuroimagem mostrando mudanças na atividade dos lobos frontal e parietal durante práticas de oração intensa (Newberg, 2009). Esses achados indicam que a fé e a prática religiosa podem promover estados de calma e concentração, contribuindo para a saúde mental dos praticantes.

Neurociência e Fé

A pesquisa de Newberg et al. (2015) utilizou tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT) para avaliar a atividade cerebral durante a oração islâmica, revelando diminuição na atividade dos lobos frontal e parietal. Estas áreas são cruciais para o comportamento intencional e a percepção sensorial, sugerindo que a oração pode induzir um estado de tranquilidade e autoconsciência.

Outro estudo, conduzido por Doufesh et al. (2012), analisou a diferença na densidade espectral de energia (PSD) da frequência Alfa durante a oração Dhuha, uma prática voluntária dos muçulmanos. Os resultados mostraram um aumento significativo no sinal Alfa durante a posição de prostração, correlacionando esta prática a estados de mente relaxados e redução da tensão.

Fé e Ateísmo

Embora a fé possa ter benefícios claros para alguns, a falta de crença também tem suas implicações. Um estudo recente avaliou a relação entre sintomas de trauma, enfrentamento e sofrimento psicológico durante a pandemia de COVID-19 em indivíduos ateus e religiosos, encontrando poucas diferenças significativas entre os dois grupos (Abbott, 2021). Isso sugere que, embora a fé possa ser uma ferramenta poderosa para alguns, os ateus podem encontrar outras formas de enfrentamento e bem-estar.

A religião pode exercer uma influência poderosa no comportamento humano, incluindo a prevenção do suicídio, considerado um grande pecado em muitas crenças. No entanto, estudos indicam que tanto indivíduos religiosos quanto ateus podem cometer suicídio quando enfrentam doenças graves, mostrando que a fé não é um fator determinante único (Alonzo, 2021).

Considerações Finais

A fé tem um impacto significativo na saúde mental e nas funções cerebrais, proporcionando benefícios emocionais e neurológicos para muitos indivíduos. Contudo, esses benefícios não são universais e variam conforme a crença e a prática individual. A fé pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar a saúde mental, mas não é uma solução única.

Referência:

ABBOTT, D.M., Franks, A.S. Coping with COVID-19: An Examination of the Role of (Non)Religiousness/(Non)Spirituality. J Relig Health. 60(4):2395-2410, 2021. DOI: 10.1007/s10943-021-01284-9.

ALMEIDA, M.A., KOENIG, H.G., LUCCHETTI, G. Clinical implications of spirituality to mental health: review of evidence and practical guidelines. Revista Brasileira de Psiquiatria, 36:176-182, 2014. DOI: 10.1590/1516-4446-2013-1255.

ALONZO, D., Gearing, R.E. Suicide Across Buddhism, American Indian-Alaskan Native, and African Traditional Religions, Atheism and Agnosticism: An Updated Systematic Review. J Relig Health. 60(4):2527-2546, 2021. DOI: 10.1007/s10943-021-01202-z.

DOUFESH, H., Faisal, T., Lim, K. S., Ibrahim, F. EEG spectral analysis on Muslim prayers. Applied psychophysiology and biofeedback, 37(1):11-18, 2012. DOI: 10.1007/s10484-011-9170-1.

NEWBERG, A.B., Wintering, N.A., Yaden, D.B. Waldman, M.R. A case series study of the neurophysiological effects of altered states of mind during intense Islamic prayer. J. Physiol. 109(4), 2015. DOI: 10.1016/j.jphysparis.2015.08.001.

PARGAMENT, K.I., LOMAX, J.W. Understanding and addressing religion among people with mental illness. World Psych, 12(1):26-32, 2013.

Alguns destaques

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