A neurociência contemporânea tem desvendado aspectos fascinantes sobre como atividades aparentemente imateriais, como a oração, influenciam o funcionamento cerebral. Neste artigo de opinião, exploraremos como a oração ativa regiões cerebrais envolvidas em processos cognitivos complexos, sugerindo que essa prática pode ter implicações significativas para o bem-estar emocional e o controle cognitivo.
A oração é frequentemente vista como um diálogo espiritual ou uma comunicação com uma entidade superior. Intrigantemente, estudos de neuroimagem mostram que durante a oração, áreas do cérebro geralmente envolvidas no raciocínio sobre os estados mentais dos outros – conhecidas como áreas de “teoria da mente” – são ativadas. Neubauer (2014) destaca que regiões como a junção temporoparietal e o córtex pré-frontal medial são particularmente ativas durante a oração, as quais são também cruciais no processamento de relações interpessoais. Isso implica que o cérebro pode tratar a oração como uma interação social significativa, mesmo na ausência de um interlocutor físico (NEUBAUER, R. L., 2014, “Prayer as an interpersonal relationship: A neuroimaging study”, Religion, Brain & Behavior, vol. 4, p. 92-103).
Além de facilitar a comunicação interpessoal imaginada, a oração também modula a percepção da dor e regula as emoções. Elmholdt et al. (2017) investigaram os efeitos da oração na modulação da dor, demonstrando que a oração pode reduzir a atividade em redes cerebrais envolvidas com a dor, como as redes parietofrontais, através de mecanismos cognitivos e não opioides (ELMHOLDT, Else-Marie et al., 2017, “Reduced Pain Sensation and Reduced BOLD Signal in Parietofrontal Networks during Religious Prayer”, Frontiers in Human Neuroscience, vol. 11).
Por fim, a prática regular da oração parece aprimorar o controle da atenção e a capacidade de auto-regulação cerebral. Kober et al. (2017) observaram que indivíduos que oram regularmente mostram um melhor desempenho em tarefas de neurofeedback, o que indica uma possível reestruturação adaptativa da função cerebral que favorece a auto-regulação e a atenção sustentada (KOBER, S. et al., 2017, “Ability to Gain Control Over One’s Own Brain Activity and its Relation to Spiritual Practice: A Multimodal Imaging Study”, Frontiers in Human Neuroscience, vol. 11).
A investigação neurocientífica da oração revela que essa prática não é apenas um elemento central em muitas tradições espirituais, mas também uma atividade que promove significativas modificações funcionais no cérebro. Estas descobertas abrem novas perspectivas para entender como as práticas espirituais influenciam a saúde mental e física, sugerindo que a oração pode ser um componente valioso na promoção do bem-estar e na gestão de condições neurológicas.
Referências
- NEUBAUER, R. L. Prayer as an interpersonal relationship: A neuroimaging study. Religion, Brain & Behavior, v. 4, p. 92-103, 2014.
- ELMHOLDT, Else-Marie; SKEWES, J.; DIETZ, M.; MØLLER, A.; JENSEN, M. S.; ROEPSTORFF, A.; WIECH, K.; JENSEN, T. Reduced Pain Sensation and Reduced BOLD Signal in Parietofrontal Networks during Religious Prayer. Frontiers in Human Neuroscience, v. 11, 2017.
- KOBER, S.; WITTE, M.; NINAUS, M.; KOSCHUTNIG, K.; WIESEN, D.; ZAISER, G.; NEUPER, C.; WOOD, Guilherme Maia de Oliveira. Ability to Gain Control Over One’s Own Brain Activity and its Relation to Spiritual Practice: A Multimodal Imaging Study. Frontiers in Human Neuroscience, v. 11, 2017.