A ‘Década do Cérebro’ e o futuro da neurociência: promessas e desafios da Iniciativa BRAIN

Introdução:

A neurociência, em sua busca por desvendar os mistérios da mente humana, tem feito avanços notáveis nas últimas décadas. As pesquisas sobre o cérebro, impulsionadas por iniciativas como a ‘Década do Cérebro’ e a Iniciativa BRAIN, prometem revolucionar nossa compreensão sobre o funcionamento cerebral e as doenças neurológicas. Neste artigo de opinião, exploramos as implicações e os desafios da Iniciativa BRAIN, traçando um paralelo com o Projeto Genoma Humano (PGH) e lançando luz sobre as controvérsias e expectativas que a cercam.

A Iniciativa BRAIN e o legado do PGH:

A Iniciativa BRAIN, lançada pelo governo Obama em 2013, visa a mapear os circuitos cerebrais, medir a atividade elétrica e química nesses circuitos e, por fim, entender como essa interação molda nossas capacidades cognitivas e comportamentais. A escala e o investimento nesse projeto ambicioso o aproximam do PGH, um marco na história da biologia. Ambos os projetos, BRAIN e PGH, têm como objetivo sequenciar e mapear elementos básicos da vida humana, o cérebro sendo visto como análogo ao genoma, e o mapeamento de suas conexões intrincadas, o ‘conectoma’, como equivalente ao sequenciamento dos nucleotídeos do DNA. (Choudhury et al., 2014)

O ‘conectoma’ e a identidade humana:

Assim como o genoma representa nossa herança genética, o ‘conectoma’ é visto como um mapa de nossa identidade, a fiação que nos torna quem somos. A promessa da Iniciativa BRAIN reside na possibilidade de coletar e analisar grandes quantidades de dados para modelar as complexas interações entre cérebro e comportamento, auxiliando no diagnóstico e prevenção de doenças neurológicas e psiquiátricas. (Choudhury et al., 2014)

O paradigma dos ‘grandes dados’ e a ‘neurociência aberta’:

A Iniciativa BRAIN e o Projeto Cérebro Humano Europeu representam uma mudança na neurociência em direção à pesquisa orientada por dados em grande escala, com ênfase no compartilhamento aberto de dados. A promessa é de que a organização e mineração de conjuntos de ‘big data’ acelerem radicalmente a compreensão da relação entre atividade neuronal e comportamento. Para desvendar os segredos ocultos nesses dados, a colaboração entre laboratórios em todo o mundo é crucial, permitindo a coleta, armazenamento e análise de quantidades sem precedentes de dados cerebrais. (Choudhury et al., 2014)

Compartilhamento de dados e dilemas éticos:

O compartilhamento de dados, fundamental para o sucesso da Iniciativa BRAIN, levanta questões éticas e sociológicas complexas. A cultura de pesquisa, tradicionalmente focada na competição e no reconhecimento individual, precisa se adaptar a um modelo mais aberto e colaborativo. As preocupações com a privacidade dos participantes, a necessidade de consentimento informado abrangente e a possibilidade de reidentificação a partir de dados anonimizados exigem atenção. (Choudhury et al., 2014)

Conclusão:

A Iniciativa BRAIN, com sua promessa de desvendar os enigmas do cérebro humano, representa um passo crucial na evolução da neurociência. No entanto, o sucesso desse projeto depende da capacidade da comunidade científica de superar os desafios éticos e sociológicos do compartilhamento de dados, garantindo a privacidade dos participantes e promovendo uma cultura de colaboração e ‘neurociência aberta’.

Referência:

CHOUDHURY, S.; FISHMAN, J. R.; MCGOWAN, M. L.; JUENGST, E. T. Big data, open science and the brain: lessons learned from genomics. Frontiers in Human Neuroscience, v. 8, p. 239, 2014.

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